domingo, 31 de março de 2013

É Páscoa?


Hoje celebra-se a Páscoa por esse mundo fora. Eu que não sou muito dado a coisas religiosas, sempre tive um gosto especial por esta época. Mas só com uma condição, tinha que ser na terra do meu pai, num meio de fortes e enraizadas tradições. Era a única altura do ano em que deixava alegremente a minha pequena cidade, para ir viver esta quadra na aldeia dos meus avós.
Agora na sua ausência, a Páscoa perdeu o encanto. Não faz sentido uma Páscoa sem ouvir o cantarolar das campainhas que anunciam o aproximar da cruz, sem as romarias a casa de familiares ou de vizinhos, sem os caminhos enfeitados com flores, fazendo lembrar um arco-íris, sem o agradável sabor dos doces da época, sem ir beber um pouco de vinho do porto às escondidas dos adultos (acho que a mim e ao meu primo já não nos podem pôr de castigo por isso).
Não faz sentido, ao ponto de ter decidido trabalhar nestes dias. Quem sabe um dia o encanto volte. Até lá, ficam as lembranças das vinte e tais Páscoas cheias de tradição e alegria.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O mundo encantado das escolas de enfermagem!


Nos últimos dias tenho trocado algumas ideias com alunas de enfermagem e deparo-me com uma coisa. Cada vez mais a teoria ganha terreno ao domínio da prática, passou-se de um oito para um oitenta neste aspecto.
Sem dúvida que a teoria é muito importante, mas por muito que estudemos em 4 anos, nunca vamos estar preparados para o mundo do trabalho. É nesse campo de batalha diário que vamos desenvolver o nosso verdadeiro conhecimento sobre a arte. É aí que descobrimos quais as teorias úteis e quais as que são úteis apenas para trabalhos escolares, como projectos e relatórios.
Não consigo perceber ainda no dia de hoje, qual a utilidade dos projectos de estágio. Eu creio que em vez de organizar o processo de desenvolvimento do aluno, apenas o atrapalha e atrasa. O aluno estagiário passa mais tempo preocupado com o seguir um projecto e, mais tarde, fazer um relatório, do que propriamente desenvolver e adquirir as competências que lhe vão ser exigidas no mundo do trabalho.
Além que agora há teorias para tudo e mais alguma coisa. Para picar um doente é preciso seguir determinada teoria. Para falar com o doente é preciso seguir a outra. Se um aluno sabe picar e é um excelente comunicador, mas não sabe fundamentar isso com teorias, já é um mau aluno. Há escolas, tipo a minha, em que um 20 é uma nota inadmissível. Esquecem-se que um aluno de Enfermagem não tem que ser um enfermeiro para ter um 20. Para ter essa nota o aluno pura e simplesmente tem que cumprir os critérios (objectivos) definidos, mas aí está o cerne da questão…critérios! Ou melhor, a falta de critérios! Porque se os houvesse um 20 não podia ser inadmissível…quanto muito algo difícil de alcançar. E se algum enfermeiro pensa dar um 20 a um aluno, calma aí! Há projecto e relatório para baixar a nota!
E se não há 20s, isto resulta também num fracasso dos professores que nunca conseguiram orientar um aluno a esse patamar. Esse é outro dos problemas. Muitas vezes, em vez de se orientar alunos no seu desenvolvimento, dificulta-se o seu trajecto, num inexplicável acesso de soberbia ou inveja. Um professor tem que ser um orientador, um motivador, um explicador, um pedagogo, alguém que procura sacar de nós o melhor. O que acontece nas universidades, é que os professores não são professores. Tipo, no caso de enfermagem, a maior parte eram enfermeiros. Agora, nem uma coisa nem outra, pois abandonaram aquilo para que se formaram, na maioria dos casos, aos anos. Para ser professor não basta ser um expert na matéria…é preciso saber e querer transmiti-la.
A escola vive no mundo teórico e, porque não dizê-lo, utópico. Passa-se quase a ideia que é melhor não fazer nada se os princípios teóricos não puderem ser cumpridos, mesmo que esteja em causa a vida de um doente. Antes podiam desculpar-se que estavam a formar enfermeiros para o SNS, que dava todas as garantias de ser cumprida a teoria. Mas hoje em dia não é assim. Que fazer se vamos ter a um sítio em que não há material esterilizado, que não tem pinças, que não tem a panóplia de meios que o SNS proporciona? (será que ainda proporciona?) Deixamos de fazer as coisas? Felizmente os enfermeiros são, geralmente, pessoas criativas, criatividade essa que não aprendem na escola…porque foge dos parâmetros teóricos e ainda não há nenhuma teoria sobre a criatividade, penso eu!
A escola concebe serviços utópicos, doentes utópicos. Nada mais errado. Nunca podemos acreditar no doente perfeito, nem que vai seguir à risca as recomendações/tratamento. Um simples exemplo, o caso da Hipertensão ou da Diabetes. O tridente ofensivo a estas doenças é composto pela medicação, alimentação e exercício. Destes três, há um que é de muito difícil manejo, até por questões culturais. Não podemos exigir à geração que está nos 70s/80s/90s que deixe de comer como sempre comeu, que nunca tiveram acesso a informação que nós temos agora. O tratamento médico já tem que ter em conta esses excessos, de forma a compensá-los. Mesmo as gerações mais novas têm imensas dificuldade em comer bem, mesmo sendo desde novos inundados por informação sobre esse aspecto.
O grande problema deste excesso de teoria nas escolas de enfermagem, é que os responsáveis por ensinar esta arte na escola, estão completamente ausentes da prática há demasiado tempo, imersos nos seus livros e teorias. Não é ir “orientar” alunos em estágios que dá a prática. Aliás, os professores de enfermagem, muitas vezes, nem são bem-vindos nos locais de estágio. Atrapalham, alteram a dinâmica dos serviços, vão com as teorias perfeitas para serviços reais, vão dar lições de moral a quem luta diariamente no terreno.
Qualquer dia forma-se enfermeiros que sabem todas as teorias na ponta da língua...mas às tantas nem um copo de água vão saber dar a um doente!

terça-feira, 19 de março de 2013

Feliz Dia!

Com duas simples e bonitas músicas te digo...obrigado Pai!

sábado, 16 de março de 2013

Carta Aberta aos meus colegas emigrantes e aos alunos de enfermagem!



Há uns dias atrás, tendo em conta uma situação passada em todos os concursos das ARS, com uma pequena diferença no da ARS Norte, enviei um mail a uma sede do SEP. Eu não tenho jeito para estas coisas, enviar e-mails a entidades. Sou demasiado informal. Não os trato com cortesia, não os apelido de Vossa Excelência, ainda para mais quando são meus colegas de trabalho.
Admito que saturado de tanta injustiça (forma de corrupção?) que varre muitos dos concursos públicos, saturado de tanta hipocrisia, às vezes escrevo de uma forma mais emocional que racional. Porém, creio não me perder no turbilhão de sentimentos, pois poderia perder a razão. Razão essa que acredito ter, eu e muitos (milhares) dos meus colegas de profissão.
Há uns 2 anos troquei uns e-mails com a Ordem acerca de uns temas que me incomodavam (http://conscienciadeumenfermeiro.blogspot.com.es/2011/06/carta-aberta-aos-colegas.html)...responderam até onde acharam pertinente e parece-me que se calaram quando a insistência da minha parte se tornou impertinente para eles. Pena que o que interessa a uns, não interessa a outros. Pena que o que interessa a milhares de enfermeiros por esse mundo fora, não interessa à entidade que os devia representar acima de qualquer outra!
Desta vez não obtive qualquer tipo de resposta. Nem a esperava, não sou sindicalizado sequer. De qualquer das maneiras deixo aqui para quem quiser ler o que mandei. Sinto que quem sai de Portugal, está completamente abandonado, quer por Ordem quer por sindicatos. Somos excedentes. Somos um fardo do qual finalmente conseguiram ver-se livres. Somos enfermeiros de segunda aos seus olhos.
Eu não acho. Acho que somos de primeira. Praticamos a mesma enfermagem, adaptando-a aos mais diversos contextos e sistemas. Praticamos enfermagem em várias línguas, somos bem aceites, mais que pela nossa formação, pela nossa atitude, pela forma de nos relacionarmos com colegas e doentes, pela nossa capacidade de trabalho.
A todos esses Enfermeiros de Primeira espalhados por esse mundo fora...um sentido abraço.


"Boa noite.

Chamo-me Jorge Gomes, tenho 28 anos, sou enfermeiro com cédula profissional (...), e dirijo-me à vossa entidade devido a uma situação que  ocorre nos atuais concursos das ARS Centro, Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo.
Sou enfermeiro desde 2007, trabalho em Espanha desde Julho de 2008. Fui para o estrangeiro na busca da experiência profissional que me era exigida aqui para ter maiores possibilidades nos mais variados concursos.
Foi anunciado por governo e pela Ordem o concurso para 750 vagas, aberto para todos os enfermeiros, com ou sem prévia relação jurídica de emprego público constituída. Apesar de 750 vagas ser uma gota no oceano em relação ao número de enfermeiros desempregados e ao número de enfermeiros que trabalham no estrangeiro, mas que gostariam de voltar, este concurso foi uma luz ao fundo do túnel para muitos dos colegas que se encontram em igual situação que eu.
Qual o meu espanto, lendo as atas dos referidos concursos, ao deparar-me com a incoerência que a experiência profissional a ser valorizada será aquela unicamente adquirida em instituições do SNS!
Para quê dar uma réstia de esperança a muitos jovens enfermeiros, se de maneira baixa e quase em letras minúsculas a fazem esfumar-se?
Para mim estes concursos não passam de uma tentativa de atirar areia para os nossos olhos só para se dizer que se conseguiu algo. Desta maneira, mais uma vez, mostra-se que para certas pessoas há enfermeiros de primeira e enfermeiros de segunda.
Para quê tanta hipocrisia? Mais valia terem aberto concursos apenas para pessoas com prévia relação jurídica de emprego público constituída e não enganavam ninguém.
Dirijo-me a vocês numa tentativa desesperada para que saibam e possam dar voz à frustração e desilusão que sentimos com este tipo de situações. Podemos ser jovens, podemos estar longe da vista (e talvez do coração), além-fronteiras, mas todos os dias damos o nosso melhor para dignificar a Enfermagem e, mais especificamente, a Enfermagem Portuguesa.
Estou farto, estou cansado e não sei a quem recorrer, pois não nos sentimos representados pelo nosso órgão máximo. Já fui excluído de um concurso por não ter enviado o certificado de habilitações literárias (pessoas ligadas ao concurso disseram-me que era o de 12.º ano), pois do meu ponto de vista, se envio como certificado de habilitações académicas o certificado de Licenciado em Enfermagem, isso supõe que tenho o 12.º ano feito. Estamos num país com um nível de ensino cada vez maior, mas com um analfabetismo intelectual enorme. Nessa altura comuniquei à Ordem, e apenas me disseram que nessas coisas não se metem.
Não digo que deva ter um lugar para trabalhar no meu país. Apenas que devo ter uma justa e clara oportunidade de tentá-lo. Não brinquem connosco, que somos gente séria.
Acho que merecemos ser tratados com mais respeito e consideração.
Peço desculpa por este meu contacto, tão informal como longo, mas sou enfermeiro e não um burocrata.
Melhores cumprimentos,
Jorge Gomes"

quarta-feira, 13 de março de 2013

Hipocrisia saudável!


Como se costuma dizer, “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, e a nível social onde mais se faz jus a esta expressão é no futebol!
Ora vejamos então…eu sou benfiquista assumido, ferrenho e para mim o Benfica é e será sempre o melhor e maior clube do mundo, quer seja campeão, quer fique em sexto no campeonato! Mesmo durante os 11 anos de seca, sempre continuei a achar que éramos melhores! Mesmo quando andávamos pela rua das amarguras, íamos jogar a qualquer estádio, nem que fosse o San Siro do poderoso Milão (não o que jogou ontem) e eu estava convicto a 100% que éramos favoritos a ganhar a eliminatória! O Porto até pode ter mais títulos nos últimos 20, ou mesmo 30 anos…mas esta hipocrisia de não querer ver a verdade é o que me leva a dizer que o Benfica foi sempre melhor estes anos todos, culpando as gestões danosas autoinfligidas e desmerecendo os demais!
É esta mesma hipocrisia que, por exemplo, mergulha os adeptos do FCP num profundo estado de negação ao não assumirem, como real, o estado de corrupção vivido no futebol português tendo como protagonista o seu presidente. Preferem escusar-se no argumento que ele não foi considerado criminoso e todos somos inocentes até prova em contrário! Claro que provas havia…ilegais (e audíveis), mas havia. Eu posso ser um emigrante ilegal, mas esse facto não me retira a designação de emigrante e  nem impede a minha existência! Dizem, no seu contrassenso clubístico, que o FCP mesmo não comprando árbitros ganharia de igual maneira (afinal, compravam ou não?), tal era a sua superioridade…seria real ou seria apenas uma sensação aparente?
É esta mesma hipocrisia que leva os adeptos do Boavista a festejar um mais que provável regresso à primeira divisão, sem que o seu clube tenha feito por isso nem seja o melhor do mundo (como eles pensam) …apenas sobem porque houve erros processuais.
É esta mesma hipocrisia (atenção, sempre inconsciente) que leva pessoas de um clube a dizer que querem que o grande rival ganhe nas competições europeias! Aqui até eu já deixei de ser hipócrita! Se eu sou de um clube, quero é que o meu rival perca todos os jogos, dentro e fora! Até quando não joga devia perder! Se quero ganhar cá dentro, a mim só me interessa ter um rival desmoralizado pelo peso das derrotas e cheio de dúvidas sobre o seu valor! Como acredito que alguém possa apoiar o meu clube, quando jogam em casa com qualquer outra equipa e em vez de apoiarem a sua equipa ou vaiarem o adversário desse jogo, entoam cânticos insultuosos contra adversários ausentes? Isso está quase ao nível de falar mal de alguém pelas costas! É algo que admiro no meu clube, o interesse acima de tudo por nós. Na Luz canta-se a favor do Benfica…e dessa maneira e só dessa maneira, contra os nossos adversários!
Contudo, é toda esta hipocrisia (mantida em bom tono) que traz beleza ao futebol, que demonstra a paixão que um verdadeiro adepto sente! É ela que torna inútil toda e qualquer discussão sobre futebol. Vemos isso nos programas de análise aos jogos. Do mesmo lance, conseguimos 3 opiniões completamente díspares e facciosas! Um lance para nós é penálti, o mesmo lance para os outros ou contra nós não é penálti! Um golo é o melhor do mundo se for marcado por um dos nossos, é um golo razoável se for por um dos deles. Eu a ver um jogo no estádio, uma falta é marcada a 5 metros da área adversária e o primeiro que me sai “É PENÁLTI ó cegueta!”
É isso tudo que faz que o futebol arraste multidões e seja uma festa. Apesar de tudo, das rivalidades, das cegueiras…celebremos com fair play este “beautifl game!”


quarta-feira, 6 de março de 2013

Democracia…a falácia da liberdade!


Se há coisa que me incomoda profundamente na política é a hipocrisia, não apenas dos políticos, mas das pessoas partidárias, quer da oposição, quer do partido no poder.
Por se querer ver o partido do coração no poder tapa-se os olhos a tudo e algo mais. Até parece que, desde o 25 de Abril de 1974, tivemos apenas um partido a liderar, a construir um sistema corrupto…a fazer merda! Se for o partido de coração a aumentar os impostos “epá, é na boa mesmo. Vejam lá, se fizer falta podem aumentar ainda mais 1 ou 2%! Tudo por amor à causa!” Se for outro partido “Cambada de energúmenos, vão roubar pró cara…!”
Não entendo que ainda se diga, mas acima de tudo se vote, num partido ou candidato por idealismo político. Isto é o cerne da hipocrisia, ou melhor dito, o seu ponto mais alto! Que idealismo? Quando vale tudo para se chegar à cadeira do poder!
Queixamo-nos que os políticos têm demasiados privilégios, que ganham muito, que usam e abusam das cunhas e favores, que têm reformas altas, que até há bem pouco tempo iam para a reforma com 8 anos de Assembleia das Bananas etc. Ah, claro, mas isto devem ser apenas os dos outros partidos, porque quando há eleições vamos a correr a votar nos nossos!
Sabem o que me preocupa neste momento, mais que o Passos governar ou desgovernar o país? É saber que vamos ter mais do mesmo nas próximas eleições, apenas mudam as cores do partido.
Será que sou eu apenas que vejo que a oposição não dá soluções? Apenas diz “Isto assim não pode ser?” Claro que depois quando lá chegarem vão fazer merda e vão ser os outros a entrar nesta onde do “Isto assim não pode ser!” Causa-me tanta impressão ver agentes do PS (neste momento) nas manifestações que nem imaginam! O palhaço que tivemos a governar antes seria por acaso Independente? Memória muito, mas mesmo muito curta!
Eu nunca votei por partido, votei por candidato. Nos meus inícios de votante, cheios de ilusão por cumprir tal ato cívico. Até chegar ao ponto de me fartar de ser enganado. Considerando-me uma pessoa inteligente e não permitindo a minha inteligência entrar em tamanha hipocrisia, passei a outra ilusão. A do voto em branco. Algo que dizem ser uma arma contra o sistema. Nada mais errado. É algo a favor do sistema. Posso iludir-me com as coisas, mas lá está…modéstia aparte, considero-me uma pessoa com dois palmos de testa (talvez um pouco mais) e, mais que isso, humilde para saber que erro (e que me deixo enganar). Neste momento não voto. Votar seria pactuar com a corja que nos levou e leva por caminhos perto do precipício.
Diz a música que o Povo é quem mais ordena…podia ser, mas o Povo não quer. O Povo não quer sair do círculo de comodidade em que se encontra. O Povo gosta de sair à rua a manifestar-se, gritar palavras de ordem, chamar nomes aos políticos. É a única conclusão a que posso chegar, ao saber que de seguida vão colocar lá alguém para daqui a pouco tempo voltarem a fazer manifestações de encher o olho e merecedoras de entrar no Guiness!
Somos livres num sistema que nos prende com a falta de alternativas. Estamos prisioneiros desta democracia ilusória.
Quem acredita que a solução para a crise passa por eleições? Eu não…

sábado, 2 de março de 2013

Há cada coisa!!


Hoje ia dar uma injecção no rabiosque a um doente meu…não esquecer que estou em Espanha… e começa ele... “Grândola Vila Morena, terra da fraternidade…”
Já chega a Espanha os ecos vindos de Portugal!