quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A lata dos enfermeiros

Li, algures numa rede social, um artigo datado de 2010 em que um ignorante (no sentido de pessoa ou anormal que fala sobre um assunto que nada percebe) teve a lata de dizer que os enfermeiros tinham lata em exigir melhores condições e apenas iam fazer greve (na semana a seguir à Páscoa, creio) só para irem de férias. Talvez para o caribe, digo eu.
A visão da sociedade sobre os enfermeiros é a de serem uns meros vassalos dos médicos, de serem uns limpa cús e, em último caso, são os gajos que dão picas. Atendendo a isto, ganhámos bem demais para o que fazemos, devíamos era ganhar menos ou, quem sabe, trabalhar inclusive de graça. É uma visão global e não apenas de um ignorante.
Pois bem, não me vou pôr aqui a dizer quais as nossas funções, pois entendo que todos os que pensam assim não têm um QI suficiente para compreendê-lo. Mas há algumas coisas que gostava de esclarecer.
Greves…somos das profissões (não a única) mais altruístas a fazer greve! Não é que nos dias de greve comparecemos ao trabalho para desempenhar algo que se chama “cuidados mínimos”! Deixo uma questão para os iluminados…digam-me o “porquê” destes cuidados e da sua obrigatoriedade?
Quanto à propagada disputa com os médicos e à nossa vassalagem, deixem-me que esclareça o significado profissões interdependentes. Dependem umas das outras. Não em tudo como é óbvio. Cada uma autónoma na maioria das suas funções. Os médicos dependem da informação que nós damos (vejam lá meus iluminados, eles até acreditam em nós) para decidir, avaliar ou alterar tratamentos aos doentes, por exemplo. Diz-se que dependemos deles para dar medicação. Isso é das tais falácias que de tantas vezes repetidas se tornam verdade. Também eu podia dizer que os médicos dependem de nós para que a medicação que prescrevem seja administrada. Ou seja, é a velha questão de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. Simplesmente eles prescrevem, nós administramos (temos poder de negar quando achamos que está mal prescrito). Esclarecidos? Não criem guerras onde elas não existem, somos colegas numa equipa multidisciplinar.
Dizem que os colegas dos Centros de Saúde não fazem nada. Eu digo que se as pessoas fossem um pouco inteligentes e seguissem as orientações de médicos e enfermeiros de família, muitos dos problemas que obrigam a internamentos ou a medicação crónica seriam evitados. Chama-se a isso prevenção, meus caros. E os cuidados primários é para isso que estão, não para operações nem internamentos.
Se falo de tudo o que vemos, de tudo o que passamos, dos turnos que alteram a nossa vida, das noites mal dormidas…dizem que já sabíamos ao que íamos. Deixem que vos diga que nenhum enfermeiro tem perfeita noção para o que vai. A maior parte, nenhuma mesmo. Vemos a fragilidade humana no esplendor e nem sempre se consegue reverter isso. Quantos doentes já me passaram pelas mãos e me fizeram lembrar entes queridos que já cá não estão? “Têm que ser frios” dizem, como se para isso apenas bastasse carregar num botão ou como se fosse coisa que se aprenda num curso.
Li um artigo intitulado “Os enfermeiros também choram” e percebo perfeitamente o significado do texto…mas eu digo que os enfermeiros não choram.
Nós não choramos, nós escondemos. Escondemos a nossa dor ou sofrimento para que aqueles que mais precisam de nós se sintam protegidos. Nós sorrimos perante a doença, perante a morte, perante a falta de esperança, para que eles não a percam. Porque sem esperança não há cura. Sabemos ser duros, sendo amáveis. Sabemos ser próximos, sendo distantes.
Nós não choramos, simplesmente temos momentos a sós, no trabalho ou em casa, em que lavamos a alma, em que renovamos a nossa vontade de ajudar o próximo!
E no dia a seguir voltamos ao nosso campo de batalha para provar que os anjos-da-guarda não choram...Voltamos na esperança de que esgares de dor virem sorrisos, que a doença vire saúde, que o desespero vire esperança, que o desumano vire humano, que a indignidade vire dignidade.


Sem dúvida que nós, enfermeiros, temos uma lata descomunal…em fazer o que fazemos por valores tão ridículos!

domingo, 26 de janeiro de 2014

Já não há pachorra para as Abelhas Maias!

Tenho reparado nalguns critérios para que se possa escrever neste espaço online do Público, tipo ser um pseudo-intelectual, um pseudo-moralista ou um arrogante de primeira!
Quem estiver a ler estas linhas, caso não esteja a par, recomendo a leitura do texto que partilho dum Nuno Ferreira.
Este imbecil designa de calímero todo aquele português que abandona o país em busca de uma vida melhor (ou apenas de uma vida) e que se lamenta por esse facto. E diz ainda que está farto deles! A esta abelha maia, que me cheira ser menino do papá e com a papa sempre feita, que não teve que deixar para trás os pais, os amigalhaços do peito, o Citroen, o gato Xoné e a vidinha que sempre teve eu digo…o rol de asneiras que escreveu é um insulto a todos aqueles que se viram obrigados a abandonar o país, licenciados ou não!
Sim, eu quero voltar ao meu país, pelo menos gostaria. Claro que com condições dignas. Mas engana-se redondamente numa coisa. Eu não ando aqui em Espanha a falar mal do meu querido Portugal, nem a dizer que isto é a melhor coisa do mundo. Pelo contrário, mesmo que o meu país não me proporcione oportunidades, eu defendo com unhas e dentes o meu país, assim como acredito que o fazem os meus conterrâneos emigrados, mesmo sabendo que o país tem escória (não produtiva) como o senhor, muita dela a governá-lo!
Mostra a sua ignorância e prepotência ao falar e caracterizar gente com quem não se dá! Limite-se a falar dos seus amigos elitistas, esses sortudos emigrantes por prazer, por turismo (saberão o que é necessidade?), “que decidiram emigrar, porque acharam, e bem, que o país era pequeno para eles”. Será de mim ou afinal quem desdenha e rebaixa o país são esses seus amigos? E você, minha cara abelha maia! Engana-se também noutra coisa, os calimeros designados por você, são a maioria. Todos eles gostariam de estar no seu país, no conforto dos seus. Coisa que a abelha não parece dar valor. Mas nós damos!
Sinceramente gostava de saber o que um energúmeno como o senhor faz como profissão. Será que apenas produz “mel” desta fraca, fraquíssima qualidade? Temos o país no estado que está, devido à elite preconizada por vossa excelência. Meninos que sempre tiveram tudo, que não sabem o que é trabalhar (a sério) para pagar as contas, meninos que não estiveram à espera de uma oportunidade do país, por conhecimentos e cunhas já nasceram com uma à sua espera, sem terem que provar a sua competência (que nós provamos diariamente).
Não precisa de nos ensinar a lei do mercado de trabalho, da procura e da oferta. Nós sabemos. Isso é uma verdade de La Palisse, usada por gente com pouca imaginação.
Agora, você defende o êxodo de milhões de euros gastos pelos contribuintes portugueses para o estrangeiro sem qualquer contrapartida. Esfregam as mãos os países que nos recebem com a chegada de profissionais altamente qualificados e talentosos a custo zero! Admiro a sua inteligência! É que os que governam, da laia do senhor, não percebem isso. Cursos e mais cursos abertos, cada vez com mais vagas. Interessa-lhes ter índices altos de gente “culta”. Como o senhor. Mas os que têm talento, mas de verdade, esses na sua maioria saem. Os outros, como o senhor, ficam. 
Ainda não percebi qual a sua profissão, mas deve ser dessas que já não fazem sentido! Pelo menos nem uma linha do que escreveu faz…tirando na sua cabecinha limitada!
Diz você “É uma evolução vulgar de Lineu: se caminhamos, e bem, para a educação superior de quase todos, alguns vão ter de fazer o que tem de ser feito e não o que gostariam de fazer.” Seria muito bonito se a competência ditasse o lugar de cada um, mas aí meu caro, vossa estaria a limpar sarjetas com um canudo na mão! E actualize-se, não é num futuro próximo que temos talento nas caixas de supermercados. Já temos! Enquanto a mediocridade tem espaço para escrever em sítios como o senhor tem.
Termino com uma música adaptada do seu desenho animado preferido, talvez lhe recorde algo e deste modo já consigo perceber o porquê de não gostar de calimeros, minha querida Abelha Maia!  

“O Calimero foi ao… à Abelha Maia...” (em vez de gelatina com morango, prove com vaselina)

O pseudo-artigo:
http://p3.publico.pt/node/10526

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Praxe…a quanto me obrigas?

Encontro-me a escrever estas linhas devido ao caso ocorrido na praia do Meco. Só nos últimos dias é que me contaram (isto de estar em Espanha nem sempre nos permite estar a par das notícias) os pormenores o que me leva a perguntar “É preciso uma investigação para saber que teve algo a ver com actividades de praxe?” Para mim e para muitos está bastante claro. Com ou sem amnésia dos sobreviventes.
Eu não sou anti-praxe, daquela praxe que serve realmente para integrar os novos alunos, que serve para praxados e quem praxa se divertirem. Sou anti-praxe, daquela praxe que serve para humilhar os mais novos, que serve apenas para fazer sobressair as frustrações daqueles pobres de espírito que nunca foram nem serão alguém na vida…mesmo que pensem que o são de capa posta.
O problema não é a existência das praxes. Nem da grande maioria que praxa ou vai praxando. É daquela minoria, dos tais frustrados, que fazem de tudo para pertencer a comissões de praxes, de modo a terem algum “poder”. Duma minoria que ocupa lugares de relevo nas hierarquias deste jogo, a que muitos chamam tradição, que é a praxe. Duma minoria para quem a praxe (melhor dizendo, praxar), é a coisa mais importante na vida! Nem todos que são das comissões serão assim, mas a maioria desta minoria, é.
Mas desengane-se quem pensa que são bichos papões. O seu “poder” acaba imediatamente quando o praxado decide. Praxe é uma coisa, abusos e estupidez são outra! E não tenham medo da desinformação, que muitos passam, de que quem não aceita as burrices alheias não pode usufruir de uma vida académica. Que não pode trajar, como se o traje fosse algo da praxe, como querem fazer entender! Não pode o comum dos mortais comprar um traje e andar com ele, sendo universitário ou não? Ou tem que apresentar uma autorização da comissão de praxe? Praxe é uma coisa, vida académica outra. Quanto muito, a primeira é uma pequena parte da segunda. Muitos pensam que é ao contrário!
Por tudo que acabo de referir, parece-me descabida a ameaça das famílias das vítimas de agir nos tribunais contra o sobrevivente da tragédia. Ou provam que ele os forçou a entrar na água, com uma arma ou agredindo-os, ou não há caso. Parece-me que para a estupidez humana ainda não há pena. Digo eu que não percebo muito de leis. E este caso é disso que se trata…de um grande estúpido, cujas ordens terão sido acatadas por pessoas adultas.
Por isso acho importante que quem é praxado atribua à praxe o devido valor. Que é pouco. O problema é pensar-se que é a coisa mais importante enquanto andamos na universidade!

À pergunta que faço no título deixo esta resposta…”NADA”!

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Portugal de Ouro!

Já escrevi noutros sítios sobre isto, mas reitero. Não percebo este ódio patriótico ao maior símbolo nacional da actualidade. Um homem que está a escrever o seu nome na história assim como o fez Eusébio. Um homem que acusam de ter tudo e algo mais, mas que nos esquecemos que já teve muito menos do que a maior parte de nós. Se tem o que tem, é devido ao seu esforço.
Sinto pena de ver um espanhol (não será único) a aclamar assim aquele que devia ser o nosso herói, enquanto outros por cá dizem “Prefiro o Messi”! Ok, eu sei que gostos não se discutem, mas não percebo. A minha admiração por Cristiano impede-me de dizer que haja outros melhores que ele (não os há, mas mesmo que houvesse não havia)!
Acho piada aos que dizem que é arrogante, infantil, vaidoso etc. Antes de mais, os que dizem isso ficaram presos no tempo. Cristiano mudou, cresceu, eles não. Eu, benfiquista dos sete costados, ainda me lembro do manguito que ele fez aos adeptos do Benfica em plena Luz. Na altura não gostei, mas ódio gera ódio e esse gesto, errado, foi resposta a alguma provocação. As pessoas criticam levadas pelo que dizem as revistas cor-de-rosa. Por isso também temos o país que temos. As pessoas baseiam o que querem saber das pessoas através do mundo cor-de-rosa, em que reinam casas dos segredos e afins. 
Eu que estou em Espanha, não sabem o que me custava ouvir a cada jogo do Real “Cristiano, PORTUGUÊS, hijo de puta es!”, para mim, mais do que uma ofensa pessoal, uma ofensa nacional. Embora o país pouco tenha a oferecer aos seus jovens e menos jovens, eu ainda tenho orgulho português. Às tantas quem nunca saiu de Portugal não saberá o que é sentir isso de verdade.
Cristiano é superior a isso tudo. Dentro e fora dos relvados. Ajuda o próximo, mesmo não sendo sua obrigação como muitos proclamam (e nem ao vizinho são capazes de deitar uma mão). É odiado por graúdos, aclamado por miúdos. É a inveja dos velhos, o exemplo dos mais novos.
Na segunda-feira, estive em frente à televisão, tal como o jornalista do vídeo, e suspirei de alívio ao ouvir “Cristiano Ronaldo”! Surpreendi-me a ver um Cristiano a chorar, mas isso só me fez ver o sensacional que ele é. Só quem é cego é que não vê que isto tem um alcance extra-futebol.

Sinal também do seu crescimento…ele foi do Sporting, hoje é de Portugal. Tal como Eusébio…que não se quis despedir sem ter a certeza que deixava um digno sucessor!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Religião...fé ou tradição?

Sei que de religião, futebol e política não se deve entrar em discussão, devido ao facto de nunca levarem a um entendimento, mas eu aqui não entro em discussão, apenas faço a minha análise do que vou observando por aí.
Em algumas conversas que tive nos últimos tempos sobre o tema e do que conheço, tomei real consciência que as pessoas são religiosas por questões culturais e não tanto por fé. Que nos incutem a religião dominante na nossa região, isso nunca tive dúvidas. O mais devoto católico português, muito provavelmente, seria o mais devoto muçulmano se tivesse nascido num país onde essa religião predomina.
Não é disso que falo. Falo no facto das pessoas dizerem que são de determinada religião, mas pouco ou nada o demonstrarem. As pessoas têm que interiorizar que para serem o que dizem que são, têm que cumprir com as regras/normas/princípios que as levam a dizer, por exemplo, “sou católico”. E nestas coisas meus amigos, ou se é ou não se é. Não há cá meio-termo, não há cá a invenção que tanto jeito dá a muitos para não se sentirem mal consigo mesmos do “católico não praticante”! Um católico (ou muçulmano) tem que praticar, senão não o é. Simples.
Depois há as incongruências que se veem muito por aí, de pessoas que não acreditam ou acreditam, mas não praticam, de quererem casar pela igreja ou, em caso de morte, a uma missa e um enterro religioso. Ou seja, as pessoas olham para a religião como uma tradição e não como um acto de verdadeira fé.
Quem se diz católico e não cumpre na íntegra os dez mandamentos da Igreja Católica está a tapar os seus próprios olhos. Ou quantos crentes ficam na cama ao domingo em vez de ir à missa, que, sem ser uma obrigação, devia ser algo inato a cada crente? Muitos dizem-se também religiosos pelo medo do desconhecido, pelo que acontecerá na pós-vida. Do tipo “É uma estupidez cumprir com as regras todas, mas acredito na mesma pelo sim, pelo não!” Não será este medo, uma prova de fraca fé ou de falsa fé?
Se lerem com atenção, não estou a pôr em causa as pessoas acreditarem no que querem. Eu tenho as minhas crenças e respeito as dos outros, tenham ou não sentido para mim. Por isso não entro em discussão sobre este tema. Seria não ter esse respeito. Não aceito é que me tentem impingir ideias. Aliás, acredito que para quem é verdadeiro crente a religião pode ser algo benéfico, principalmente a nível de paz interior.
As religiões tiveram um grande revés com o evoluir da ciência e a descoberta de muita História que estava por descobrir. A ciência trouxe sérios problemas ao que as religiões diziam ser História, levando estas a mudar certas interpretações das escrituras, até a data tidas como fiel relato do quê se passou, sendo essa uma confissão que essas escrituras pouco ou nada poderão servir como textos históricos…para bom entendedor meia palavra basta.
Podem dizer que estou a pedir que sejam todos religiosos radicais? Podem, mas não, não estou. Quem o diz são as próprias religiões. E clarifico que com radicais não me refiro andar a matar pessoas de outras religiões, que isso já são interpretações dúbias que se fazem das escrituras sagradas de cada religião. Simplesmente, para se ser religioso, à que ser radical nos seus pressupostos.

O que me leva à seguinte pergunta…será que as religiões têm lugar e espaço no mundo actual? (Às tantas, as que existem não…)