terça-feira, 28 de outubro de 2014

Comportamentos estúpidos

 O ser humano revela grande parte da sua estupidez ao ir contra o que a sua própria inteligência tem descoberto.
Uma coisa é fazermos algo que nos faz algum tipo de dano porque não o sabemos. Isso é por ignorância. Aceita-se e compreende-se. Agora, fazermos algo que sabemos que nos faz mal, isso não compreendo, apesar de ter de aceitar.
Porém, muitas vezes, quem não o aceita são as pessoas que passam um mau bocado devido aos seus comportamentos passados. Muitas vezes ouço dizer “Que mal fiz a Deus para merecer isto?” A Deus não sei, mas essas pessoas deviam ter pensado, quando mais novas, no mal que estavam a fazer a si mesmas.
Tocarei apenas em duas coisas que ocorrem muito na nossa sociedade, principalmente nos mais jovens, nos que estão com a informação toda disponível desde cedo…ou seja, com a faca e o queijo na mão em relação à sua saúde. São elas fumar e beber.
Acho que a minha geração já teve mais que informação sobre os malefícios do tabaco. As de agora que mais precisam de saber? E o que aconteceu com a minha e o que acontece com as mais novas? No meu tempo, na minha turma de 12º ano, seríamos uns 4 ou 5 a não fumar. “Não é vício, é da fase!”, dizia-se. Entro na universidade e no início do 1º ano fumavam uns 4 ou 5. No final desse mesmo ano, éramos uns 4 ou 5 a não fumar (poderei estar a exagerar…mas relevo que era um curso da área da saúde). Saio do trabalho de manhã cedo e vejo miúdos(as) entre os 11 e os 17 anos de cigarro na mão. Acreditem, mete-me muita confusão…tal como ver profissionais de saúde a fazê-lo.
É por isso que faço um apelo, principalmente aos jovens que conheço, não caiam na tentação. Serão mais inteligentes e superiores do que o estúpido que vos estender um cigarro.
Como informação em grande quantidade não chega, acho que, desde cedo, estas crianças deviam ter contacto com a realidade…de quem foi novo como eles, foi estúpido como eles e que agora, ainda sendo novos, reclamam com Deus a má sorte que tiveram. Ver o que sofrem, ver o que é viver com dor, com falta de ar…sem esperança. Seria algo cruel? Não tanto como ao que se estão a sujeitar.
Com o álcool passa algo semelhante. Eu bebo, quando o Papa faz anos, mas bebo. Gosto de um bom vinho a acompanhar uma boa comida. Mas às tantas passo um mês sem tocar numa gota de vinho. Não consigo perceber quando vejo uma pessoa ficar stressada ou incomodada por não haver vinho a acompanhar uma refeição. Não será isso já indício de algo?
Porém, o que vemos nos jovens é um consumo descontrolado de álcool, cada vez numa idade mais precoce. Estes jovens, que se emborracham desde os 12, 13 ou 14 anos, dificilmente vão conseguir parar de o fazer. E sugiro nestes casos o mesmo que sugeri anteriormente. Ver pessoas que, por culpa própria, sofrem devido a beberem em excesso. E no caso das bebidas, temos a agravante das sequelas de acidentes de carros…que não acontecem só aos outros.
Há tantos outros comportamentos que se enquadram na estupidez humana, mas destaquei estes dois. Podia ter falado na alimentação, talvez onde toda a gente mais comete erros, mas aqui há algo que torna mais difícil não os cometer. A indústria alimentar tem tanto peso que há demasiada informação a variar consoante os interesses instaurados. O que hoje nos faz mal, amanhã já não faz, ou vice-versa.

Com tudo o que escrevi, não estou a chamar estúpido a ninguém…mas sim aos comportamentos que, no fundo, todos temos ou tivemos alguma vez na vida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Più Bella Cosa...

Ainda me recordo como se fosse hoje…as primeiras férias que passamos juntos, estavas tu ainda na barriga da tua mãe. As primeiras férias também no Algarve, se não me engano. Pode dizer-se que é exagero, mas não andarei muito longe da verdade se disser que comecei a gostar de ti já nesse momento. Já lá vão 20 anos e uns meses.
Uns meses depois nasceste, ainda sem eu saber o papel privilegiado que ia ter na tua vida. Dizem que todos os bebés são lindos…mas tu foste a mais linda que eu vi até hoje.
Vi-te crescer, começar a andar, a falar…a chamar-me padrinho, algo tão caricato em alguém novo como eu…mas não imaginas o quanto gostava disso. De bebé fizeste-te menina e de menina já te fizeste mulher. O tempo passa, tu cada vez mais bela, eu cada vez mais velho…mas cada vez mais orgulhoso de ti.
Por muitos anos que passem, mesmo um dia quando tiveres filhos, serás para mim essa menina que está no meu colo, essa pequena Princesa. E estarei sempre aqui para ti.
Para terminar, o que se deseja sempre neste dia. Que tenhas um feliz aniversário e, acima de tudo, que sejas feliz todos os dias da tua vida.

Um beijinho (com saudade) do Padrinho (Observação: Karateca, com licença de uso e porte de arma, exímio atirador do exército e expert dos serviços secretos em tortura…apenas como observação)

domingo, 12 de outubro de 2014

A dicotomia do corpo humano



O ciclo vital do homem segue uma linha que, normalmente, se inicia no nascimento do novo ser e termina com a morte deste, na velhice. Isto seria o “normal”, mas como o comum dos mortais sabe, nem sempre decorre desta maneira.
Muitas vezes, em pleno esplendor físico, sucedem situações que nos revelam o quão frágil é o ser humano. Morte súbita, acidentes, tumores, doenças degenerativas, entre tantas outras coisas, fazem com que de estarmos bem, passamos a estar mal ou a nem sequer estar.
Se há coisa que sei que faz parte da vida, mas que me custa imenso a compreender, é a morte de uma criança ou de um jovem. Não tem sentido que, na fase mais forte da vida, mesmo em pessoas não tão jovens, o nosso corpo ceda, quebre e morra. Esta é, a meu ver, a grande fragilidade da máquina que o nosso corpo é.
Pelo contrário, temos situações que ocorrem quando já passou o tempo da máxima (ou sequer da) robustez física do nosso corpo, mas que este apresenta uma resistência de maratonista, aguenta sempre mais um bocadinho. Como enfermeiro de um Hospital de Larga Estância foram já muitos os casos em que vi o fechar do ciclo vital das pessoas. Isso não me incomoda, permitir uma morte digna, a meu ver, é tão importante como salvar uma vida. Principalmente quando a vida já não pode ser salva (por isso não entendo os casos em que se rejubila por um salvamento, quando o que se salva é um corpo sem vida…mas isso seria tema para outra discussão).
Porém, admito que há algo que ainda me impressiona, que é a capacidade do corpo resistir, mesmo quando a pessoa já desistiu há muito. Alguns casos desses, simplesmente com o acamar de um corpo e o apagar gradual da pessoa, chegando a um ponto que não sabemos se aqueles olhos abertos nos querem dizer algo (e o quê) ou se são, simplesmente, o reflexo de um corpo vazio. Se a “alma” está ou não está presente. O que sei é que o corpo está, sofrendo lesões e deformações cada vez mais difíceis de curar e corrigir. Esperando que uma infecção ganhe a essa resistência ou que o corpo se apague de vez e permita o fechar do ciclo. No entretanto, passam meses e anos em que o corpo se torna uma prisão.
Há outros casos, por exemplo, de pessoas com cancro, que a resistência não se dá durante tanto tempo, mas que se prolonga o suficiente para permitir a deformação corporal. Casos em que os doentes estão conscientes. Casos em que muitas vezes a dor maior, que nenhum medicamento pode tirar, é a de ter consciência do que se está a passar. Sou e serei sempre a favor de cuidados paliativos, muitas vezes confundidos erroneamente com eutanásia. Quanto a esta, não me merece qualquer tipo de comentários, nem a favor nem contra. É proibida, logo está fora do meu leque de cuidados a prestar.
Ressalvo que todos os casos merecem ou deviam merecer o cuidado e atenção máximos dos profissionais de saúde. Por exemplo, ensinaram-me na universidade a falar para os doentes, mesmo que estivessem num estado comatoso. Não o aprendi a fazer lá, foi algo que fui aprendendo a fazer desde que comecei o meu caminho diário como enfermeiro.

É esta ambivalência o aspecto com o qual mais me custa lidar no meu dia-a-dia profissional. Sermos frágeis quando devíamos ser fortes, e fortes quando devíamos ser frágeis.

sábado, 11 de outubro de 2014

Conversas nocturnas...

Numa conversa casual com uma paciente por volta das 24h...

"M" - Que preferias agora, estar a trabalhar ou na cama?"
Eu - Preferir preferir, preferia estar na cama!"
"M" - Sozinho ou acompanhado?

Nestas alturas fico sem saber se a vergonha nunca existiu ou se se perdeu com o passar dos anos!