terça-feira, 25 de abril de 2017

Uma responsabilidade chamada “Liberdade”

Comemoram-se hoje os 43 anos do 25 de Abril de 1974, a inesquecível Revolução dos Cravos. Um movimento que devolveu a liberdade a um povo que vivia esganado pelas mãos de ferro dum regime tirano.
Passado tanto tempo olhamos para trás e para o ponto onde estamos e só podemos admitir que alguma coisa falhou. É verdade que vivemos livres. É verdade que, apesar de crises e mais crises, as condições de vida são muito melhores hoje em dia. É verdade que estamos melhor que na ditadura, antes que alguém me venha dizer que não sei do que falo…e seria verdade, pois não vivi na ditadura.
Mas o ponto é mesmo este, daqui a alguns anos, haverá pouca gente que tenha pertencido a essa era. Não haverá quem nos diga “Vá, não sabes o que dizes, o que nós passamos na ditadura era muito pior!” Por isso, mais que dizer o mau que era viver antes, a preocupação deveria de ser a de transmitir valores, princípios e ideais que se prolonguem no tempo.
Podemos começar pela classe que nos governa, em que tudo vale para chegar às cadeiras do poder, cadeiras essas que dão direito a tudo menos a uma coisa…nunca há responsáveis por gestão danosa dum país. Sentam-se nelas de peito feito e a gritar ao mundo as suas qualidades, saem delas de fininho, esperando empregos (nunca trabalho) de ordenados insultuosos. Apesar de várias cores, a ideologia é a mesma neles todos, disfarçando-a com hipócritas eleições.
Porém, quem nos governa é a imagem da sociedade que somos. A falta de escrúpulos e de educação que se vê na política é a mesma que se vê diariamente. Seja no futebol, em que dizemos ser dum clube e odiamos os outros. Em que um adepto do clube adversário não pode entrar num estádio com adereços do seu clube (gritem agora, viva a Liberdade). No dia-a-dia, em que vemos constantemente selvagens ao volante, a vociferar contra tudo e contra todos, colocando vidas em risco. Em qualquer serviço, exigindo qualidade máxima quando somos clientes, reclamando de exigências absurdas quando somos os prestadores do serviço. Temos trabalhadores que se queixam do trabalho que têm, temos desempregados que adoram estar desempregados (viva a liberdade).
Temos uma sociedade cada vez mais respeitadora dos direitos dos outros, seja jovens ou adultos. Vê-se isso nas caixas dos hipermercados com grávidas quase em trabalho de parto a terem que ouvir bocas por usufruírem dum direito que lhes assiste. Direito esse que as meninas das caixas, muitas vezes a medo, é que fazem cumprir. Vê-se nos transportes públicos, em que vemos jovens cansados sentados e idosos fortes nos lugares em pé. Vê-se nas urgências, em que pessoas numa situação delicadíssima de pulseira verde insultam todo o mundo por uma pessoa de pulseira laranja entrar primeiro, após ter chegado depois delas. Vê-se isso nas salas de aula, que acolhem pequenos selvagens para os educar, mas como educar se em casa se mantém a selva? Vê-se na desculpabilização por parte dos pais em relação aos comportamentos repugnantes que os seus filhos têm. Seja como for…viva a liberdade.
Há uma desculpa para isto tudo…”os tempos mudaram”. Claro que mudaram e burro é quem não se adapta às mudanças. Contudo há uma coisa que não mudo, aquilo que acredito, os meus valores e, acima de tudo, o meu sentido de justiça.

Ter liberdade não é a mesma coisa que saber viver em liberdade. E essa foi a maior responsabilidade que o 25 de Abril nos trouxe e com a qual falhamos redondamente. Somos livres, mas eternamente prisioneiros da nossa irresponsabilidade…apesar de tudo, viva a liberdade!